terça-feira, 22 de junho de 2010

Mais uma de Amor...


E nessa vida de tantos encontros e desencontros tenho visto, ouvido e anotado muitas histórias de amor, de amizade, de traição, de vida...tantas, tantas, que de repente registrar vale a pena...


Mais uma de Amor




E tinha sido a primeira vez que ela ficou feliz em andar de ônibus. E foi a primeira vez que ela agradeceu a Deus por ser pobre e usar transporte coletivo.


Todos os dias ela tentava não fazer as mesmas coisas, mas já entendia que não poderia mudar tudo. E aceitava algumas rotinas que eram impostas pelo trabalho, pelas pessoas e até por ela mesma.


Era uma mulher inteligente, que sabia como valorizar seus pontos fortes e esconder as falhas. Tinha um ar de curiosidade, olhava com precisão e era atraída por cheiros. Saudosa, já tinha experimentado a situação de vítima mais vezes que a de culpada e achava que estava na hora de mudar os lados. Não tinha medo de morrer, mas detestava injeções e por isso evitava se envolver em situações que resultassem na precisão de uma seringa.

Lembrava das paixões com saudade de si mesma, de como ficava encantada com os outros. Entendia que era melhor sofrer, perder e sentir a falta do outro...mas amar intensamente, a nunca ter se envolvido.


Acordava cedo há tempos e já gostava de pensar que o dia passava mais rápido quando ela despertava com o sol fraco, ainda muito cedo.


Fazia o mesmo trajeto, subia no mesmo ônibus, sempre na mesma hora e já tinha uma certa simpatia pela cobradora daquela viagem.


Sentava ao lado da janela, gostava de ver pessoas, paisagens e esperava que alguma coisa acontecesse. Espera ver e encontrar alguma coisa nova. Alguém que chamasse a sua tão dispersa atenção. Era engraçada quando estava de mau humor e complicada na TPM. Tímida e ao mesmo tempo falante, pensava mais rápido do que conseguia expressar e quase sempre associava cheiros aos sentimentos.


Até que um dia, os olhos daquela moça viram algo diferente. Ela sentiu graça e leveza por instantes e um pouco de lamentação por saber que era apenas uma viagem do subúrbio até o centro, no máximo. Mas, por instantes, seus olhos se encantaram. Ele subiu no ônibus e ela pensou que tinha encontrado o que tanto procurava.


Mas ele desceu tão rápido que ela nem conseguiu ver os olhos dele. Não sabia a moça que aquela seria a primeira de tantas vezes que ela viria o moço...


E ela sentava todos os dias na mesma cadeira, pegava o ônibus no mesmo horário, esperava na mesma janela. E ele subia, passava pela catraca, ficava sempre de pé, na mesma posição. Contava 4 paradas e ele descia.


E os 12 minutos que ele ficava dentro do ônibus eram suficientes para ela ver a tatuagem dele, a marca dos óculos, a calça jenas, o tenis - vez ou outra sapato, a blusa que - ela não sabia se era apertada ou se o braço dele era muito forte, o corte do cabelo, o formato do rosto, da boca, das mãos.


E ela observou o moço por dias, meses, por dois anos. Ela mudava o penteado, a cor do batom, a blusa, mudava a armação dos óculos e mudava a expressão...mas ele não percebia a moça.


Até que um dia, depois de dois anos...ela se mudou e não mais pegou o ônibus. Mas a imagem dele estava bem guardada na memória dela. Ele tinha ficado marcado nos olhos dela. (continua...)

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